É difícil olhar para o cardápio de uma pizzaria no Brasil ou na Itália e não encontrar a famosa Pizza Marguerita - Margherita em italiano. Tradicionalmente feita com molho de tomate, mozzarella e manjericão, essa receita tão popular em diversos países circula pelo mundo há mais de um século.
Mas de onde surgiu tão famoso prato poucos sabem. E é isso que viemos trazer a vocês neste post.
Para contar a história de como essa pizza caiu tanto nas graças do povo, primeiro precisamos contar a história de uma menina da nobreza italiana nascida em 1851. Filha de Ferdinando, Duque de Gênova com Elisabetta da Saxônia, seu nome completo era Margherita Maria Teresa Giovanna di Savoia. Sua primeira casa atualmente é um museu, o Palazzo Chiablese e pode ser visitado em Turim, Sardenha.
Na época, a Itália passava por um processo de unificação, sob a liderança de Victor Emmanuel II, até então, rei da Sardenha. Quando Margherita tinha apenas 9 anos, Victor Emmanuel criou o Reino da Itália. Margherita era sobrinha do Rei e poucos anos depois foi considerada uma boa candidata para se casar com o príncipe, Umberto I.
O casamento tinha um objetivo simples, gerar um herdeiro para a casa de Savóia e assegurar poder para a monarquia, mas isso não impediu a menina de exercer um papel importante na corte italiana. Pela falta de uma rainha, caiu sobre a princesa a responsabilidade de tornar popular a casa real da Itália unificada, através da Península Itálica.
Margherita, que teve uma educação de excelência, havia sido criada com valores patriotas e monarquistas, então a responsabilidade para ela, foi uma honra.
Durante seu tempo como princesa, ela viajou pela península, e seu carisma e inteligência a fizeram ficar extremamente popular, mais até do que o príncipe na época. Em pouco tempo, seus discursos e aparições públicas eram aguardadas com ansiedade. Por onde ela ia, ela tomava o cuidado de vestir as roupas locais, demonstrar interesse e seguir a cultura local, fazendo com que todos se sentissem parte da nação.
Enquanto seu tio e sogro faziam o jogo político, Margherita fortaleceu a união entre o povo italiano, validando seus costumes locais e criando um sentimento de patriotismo.
Assim, 10 anos depois, quando Victor Emmanuel II morreu e Umberto I se tornou rei da Itália, Margherita já era amada por seu povo. E, se mudando para a capital, Roma, ela redobrou seus esforços para fazer a coroa ser amada através do reino, ainda mais após uma tentativa de assassinato contra seu marido, o Rei, logo após assumir o trono.
Margherita di Savoia, a nova Rainha da Itália focaria dessa vez na nobreza. Organizava festas e promovia eventos com nobres, intelectuais e artistas conservadores e patriotas italianos. Um grupo ficou famoso como “Circolo della Regina” (círculo da Rainha), que se reunia em seu salão todas as quintas para as “giovedì della Regina” (quintas das Rainha). Logo, seu nome aparecia em odes e poesias que eram cantadas por toda parte.
Mas mesmo focando na nobreza, Marguerita não se esqueceu de seu povo. Fundou instituições culturais, participava em trabalhos voluntários sociais, praticava muita caridade, em hospitais, orfanatos e outros lugares onde o povo precisava.
Chegou a fundar a primeira biblioteca para cegos da Itália, em Florença, 1892, e a trabalhar com a Cruz Vermelha durante a primeira guerra mundial, a qual ela se opunha veementemente. Não é difícil ver porque Margherita era uma Rainha amada.
Mas o que tudo isso tem a ver com uma pizza inventada há cerca de 200 anos?
Com a pizza em si? Nada. Com sua popularidade? Tudo.
Veja bem, a receita original inclui a tradicional massa de pizza italiana, feita com uma mistura de farinhas fantástica, molho de tomates de San Marzano, folhas de manjericão, queijo mozzarella de leite de vaca, sal e azeite de oliva. Todos os ingredientes frescos e de alta qualidade.
As primeiras menções que se tem de uma receita com essa seleção de ingredientes surgem em Nápoles, entre 1796 e 1810. Riccio, no livro “Napoli, Contorni e Ditorni”, publicado em 1830, já comentava sobre uma receita com esses ingredientes.
Em 1858, Emanuele Rocco e Francesco de Bourcard descrevem uma pizza com esses ingredientes no livro “Usi e costumi di Napoli e contorni descritti e dipinti”. Emanuele ainda rearranjou os ingredientes para usar o queijo em fatias finas, no design de uma flor, com o manjericão complementando o desenho. O nome, inclusive, pode ter vindo daqui, uma vez que Margherita também é o nome da flor Margarida em italiano.
Contudo, foi em 1889, numa visita do Rei e da Rainha à Nápoles, que a pizza se popularizou. Algumas pizzarias já eram famosas e os monarcas queriam experimentar a iguaria desenvolvida pelo povo local. Convocaram então, o chef Raffaele Esposito, da pizzaria Brandi, aberta até hoje na mesma cidade (não deixe de conhecer quando visitar Nápoles) para cozinhar para a família Real.
Rafaelle, que já conhecia a fama da Rainha, aproveitou para fazer a receita que utilizava as cores da bandeira da Itália e disse que foi tudo em homenagem à sua Majestade.
Margherita, obviamente, ficou encantada e, quando o povo, de grande patriotismo, engrandecido pela própria Rainha, ouviu que ela havia se deliciado com uma pizza feita em sua homenagem… bom, nós já sabemos o resultado disso.
Mais de 130 anos depois, a receita foi espalhada pelo mundo, se fazendo presente na grande maior parte das pizzarias de diversos países, com diversas variações, mas todas levando o nome da Rainha Margherita di Savoia.